Porque é que às pessoas não lhes basta se cruzarem na rua uma vez por outra, acenarem e seguirem em frente? Não, não é suficiente. Passam a vida  a organizar encontros: para café, para um copo, para almoçar, para ir às compras, para ir andar, para ir passear o cão.  Porque é que o fazem? Vem na Bíblia? Que eu saiba nunca Judas disse a Pedro: “Vamos tomar café que eu quero contar-te uma brincadeira que me rendeu ainda trinta dinheiros.”    

Ter amigos e ir a encontros desses sai muito caro e vamos ouvir as mesmas coisas do costume – que o seguro do carro é caríssimo, que a namorada lhe deu com os pés, que lhe apareceram bicos de papagaio e lhe desapareceu um pé de cabra que tinha na garagem, e que a filha adolescente já menstrua.  Já tinha dito aquilo tudo mas com outros ingredientes. O tom é o mesmo, o bar é o mesmo, a gravata é a mesma. As bebidas são as mesmas mas cada vez em maior quantidade.  Eu porque sou amigo tenho de ouvir toda aquela algaraviada, é? E levar depois a machadada final: “pagas isso aí que deixei a carteira em casa”

Afinal em que é que se baseia essa gente para se andar a encontrar? Estão a sociabilizar. Está bem que o façam, mas porque não o fazemsozinhos? É preciso terem companhia para que isso se chame sociabilizar?Sociabilizem com as pedras da calçada, com o mar , com o céu...

Já pensei em dispensar os amigos mas o problema é que de vez em quando preciso deles, dão jeito, pronto. Nunca lhes perguntei o que acham de mim. Acho que não quero saber. E se pensam de mim o mesmo que penso deles?Arriscado demais perguntar-lhes. Por outro lado ninguém quer arriscar ter os rapazes da Arrisca( associação que lida com as dependências) por perto. Não querem sociabilizar com eles. Querem-nos é bem afastados.  Na selva amazónica de preferência. Para quem passa a vida a sociabilizar, é muito estranho.